quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Meu Mundo


Existe um mundo muito legal, onde coisas boas e ruins acontecem. Este mundo gira como o meu gosto, apenar de os sentimentos não serem como queira.
Neste mundo muito distante assisto seus acontecimentos como uma telespectadora, vejo tudo o que acontece e também sou personagem. Mas aquela pessoa não sou eu. Por que tanta frustração? Idealizo um mundo, mas mesmo nele não me sinto satisfeita. Sou Deus em meu mundo, mas não tenho controle sobre ele, tento manter uma ordem, mas foge ao meu controle. Começo pensando em algo e termino com a destruição de tudo. Após sua criação, este mundo ganha vida própria, vontades próprias e rejeita seguir meus planos.
Meu mundo não existe mais, virou mais um apenas, uma idéia com vida própria. Meu personagem não sou eu. O que me resta? Assistir sua evolução até a destruição ou tentar criar outro mundo na esperança de controlá-lo?


Patrícia da Conceição Freire data escrita 25/11/2008 modificações finais 29/01/2009

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

BOBO


Das Vantagens de Ser Bobo(por Clarice Lispector)
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir tocar no mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: “Estou fazendo, estou pensando.” Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia. O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo parece nunca ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski. Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era que o aparelho estava tão estragado que o concerto seria caríssimo: mais vale comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranquilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu. Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: “Até tu, Brutus?” Bobo não reclama. Em compensação, como exclama! Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz. O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação, os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem. Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas! Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.