sábado, 25 de julho de 2009


Que triste seria querer falar e não saber;

Querer desenhar e não imaginar;

Querer sentir e racionalizar.

Que triste seria ter um lápis e um papel em mãos e não conseguir criar.

É preciso saber falar para dizer algo?

É preciso saber desenhar para imaginar?

É preciso racionalizar para poder sentir?

É preciso um lápis e um papel para poder criar?

Queria saber ler sem nada dizer,

Poder escutar sem nenhum ruído identificar,

Poder viajar sem sair do lugar,

Poder enxergar com olhos de crianças.

Que triste seria terminar de escrever,

Limitar-me a esta norma

Sem nenhuma lembrança.

(readaptação de um texto criado no dia 25/11/2008)

24/07/2009 Patrícia da Conceição Freire

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Delírio de uma mente Presa


Um vento cortante e frio sopra sobre meus cabelos, que se esvoaçam e dançam como se seguissem uma melodia com um timbre melancólico. Sinto como se escutasse gritos agonizantes, mas escuto-os tão baixinho, quase inaudíveis, como se viessem de dentro de mim.

É sexta-feira, a tarde irá chover e não tenho para onde ir. Sigo um caminho sem motivo algum sem uma expectativa de chegar a algum lugar. Vem-me a mente lembranças de afazeres, preocupações, mas por algum motivo minha mente luta em permanecer vazia, apenas seguindo o caminho.

Começa a chover, as finas gotas de água fria parecem agulhas, que furam meu corpo, quando tocam-no. O vento melancólico muda sua melodia, soa agora como uma grande calmaria. Os gritos abafados desaparecem. E assim sigo sem caminho ou destino.

De vez em quando volto a raciocinar e me pergunto: para onde vou? Por que estou aqui? Mas são tentativas falhas de voltar a consciência. Estou tomada por uma nuvem de inconsciência. Será que me tornei viva? Ou será que enfim morri? Não sei. Não tenho motivo, apenas sigo, um passo atrás do outro. Não sinto medo nem nada, apenas sigo.

A chuva continua a cair, certeza que tenho neste momento. Sinto-a e isso me mostra que de fato estou acordada, não é um sonho. A paisagem passa sem a mínima importância e com ela o tempo, as pessoas e tudo o que ficou para trás e não me importei. Já se passou muito tempo desde quando me pus a caminhar. Mas quando comecei? A onde estava? O que me fez seguir este caminho? Não lembro! É como se tivesse nascido no exato momento em que comecei a andar.

A água escorre pelo meu rosto como se fossem lagrimas, lagrimas morta, poderiam ser, não sei. A sensação de estar nesse momento me incomoda. Como posso me dar ao luxo de sair andando com tantas coisas para fazer, mas mesmo assim não paro, sigo sempre indo em frente.

Está escurecendo, estou com frio, saberei voltar para casa depois? Estou perdida sem rumo! Será que realmente somente agora que me perdi? Ou foi a muitos anos atrás?

A chuva finalmente para e junto dela eu também. Paro em um local deserto sem nenhum resquício de vida aparente. Enfim paro para pensar, estive só o tempo todo, caio em consciência, o que irei fazer agora? Que horas são? Preciso voltar, estou com medo, com frio e confusa. Entro em desespero e tento gritar, mas nem um som sai.

Após o desespero vem a aceitação, estou perdida, não consigo pedir ajuda estou só.

Sento em uma pedra e vejo minha imagem retorcida em uma poça d’água. Não consigo distinguir a imagem, apesar de ter a certeza de que deve ser eu, parece uma pessoa, mas não a conheço. A única coisa familiar nela são as roupas, iguais as minhas, mas mesmo assim sei que não sou ela. Como posso afirmar que aquele reflexo é meu? Nunca vi meu rosto.

Olho para o céu e vejo nuvens dançando, se juntando, mudando de formas. Todas seguem o mesmo caminho, algumas mais rápido outras nem tanto, algumas ainda se desfazem no meio do caminho.

Derrepente sinto uma grande paz, sinto todas as preocupações se esvaindo e junto delas todo meu medo e frio, agora não sinto mais nada, olho novamente para a poça d’água e não vejo mais ninguém refletido, agora só há um céu negro com grandes borrões e pequenos pontos cintilantes que tentam se esconder por de trás dos borrões. Olho para o céu novamente e fecho meus olhos, sinto-me leve, como–se a brisa molhada me carregasse para algum lugar, qualquer lugar, não me preocupo mais com nada, agora não sinto mais nada, nem mesmo o peso do meu corpo, não existo mais, me torno tudo e ao mesmo tempo nada. Estou livre.

(Delírio de uma mente Presa. 27/11/2008)

Patrícia da Conceição Freire